3 de novembro de 2015

Saiba dizer não


Tommaso Russo



Nosso dia de trabalho já é longo do jeito que é e a tecnologia torna-o ainda maior. Quando chegamos em casa após um dia difícil, seu celular toca e mensagem não param de cair em sua caixa de Entrada, enviadas de pessoas que esperam resposta imediatas.
Embora muita gente alegue que se desconecta do trabalho assim que chegam em casa, mais da metade das pessoas verificam seus e-mails antes e depois do trabalho, no final de semana e mesmo quando ficam em casa por estar doentes. Pior, também quando estão de férias.
Estudos mostram o quanto prejudicial esse nível de “conectividade” é. A expectativa de que as pessoas têm em responder e-mails fora do horário de trabalho cria uma situação de estresse crônico, o que especialistas chamam de telepressão. A telepressão faz com que as pessoas não consigam relaxar e desligar-se realmente do trabalho. Obviamente, esse estado é altamente prejudicial à saúde: além de aumentar as chances de doenças cardíacas, depressão e obesidade, o estresse diminui a capacidade cognitiva.
Devemos estabelecer limites entre nossa vida pessoal e professional. Se não conseguirmos, o trabalho, a saúde e nossa vida profissional sofrem.
 Responder e-mails fora do horário de trabalho não é o único aspecto para o qual devem ser definidos limites. É necessário fazer uma distinção clara entre o que pertence ao empregador e aquilo que é somente pessoal. Os aspectos descritos abaixo são de caráter exclusivamente pessoal. Se não conseguirmos isolá-los e aprendermos a dizer não para a empresa, estaremos jogando fora coisas que possuem um valor inestimável.
SAÚDE. É difícil saber quando proteger sua saúde no trabalho, porque a saúde piora de maneira muito gradual. Permitir que o estresse aumente, perder o sono e ficar sentado o dia todo sem exercitar-se são fatores cumulativos. Antes que se perceba, estamos com as costas doloridas e continuamente pingando colírio nos olhos que ardem, enquanto olhamos para nossa barriguinha que não para de crescer. O segredo é manter uma rotina que nos mantenha saudável (caminhar após o almoço, não trabalhar nos finais de semana, tirar férias) e manter esse plano a todo custo. Senão, permitimos que o trabalho invada esse espaço.
FAMÍLIA.  É fácil fazer com que sua família sofra com seu trabalho. Muitos de nós agem assim por que veem o trabalho como o meio de sustentar a família. Pensamos “se eu ganhar mais, meus filhos podem estudar em uma escola melhor”. São boas intenções, mas acabam provocando uma perda enorme para sua família – sua ausência em convivência com qualidade. No leito de morte, as pessoas esquecem quanto dinheiro ganharam para a esposa e filhos. Restarão apenas as lembranças da vida com eles.
SANIDADE. Nosso patrão não merece partes de nossa sanidade mental. Um emprego que rouba mesmo uma pequena parte dela está custando caro demais. A sanidade é algo difícil de ser percebida pela empresa: devemos controla-la nós mesmos e estabelecer limites para mantermo-nos sãos. Na maior parte das vezes é a vida fora do trabalho que nos mantem mentalmente saudáveis. A atitude mais produtiva para o trabalho é recusar mais trabalho além do que você já dedica para curtir seus hobbies e seus amigos. É fato que podemos fazer algumas horas extras de vez em quando, mas é importante dizer não quando precisamos de um tempo longe do trabalho.
IDENTIDADE. Enquanto seu trabalho faz parte de sua identidade como pessoa, é perigoso permitir que se torne sua única identidade. Podemos perceber isso quando nos perguntamos o que é importante na nossa vida e o trabalho é a única (ou a maior parte) da resposta que obtemos. Possuir uma identidade fora do trabalho é mais do que apenas divertir-se. Contribui também para aliviar o estresse e crescer como indivíduo.
CONTATOS PESSOAIS. Enquanto seu empregador merece seu melhor esforço, os contatos pessoais que cultivamos ao longo da carreira são nossos e somente nossos. Os contatos são frutos de trabalho duro e de esforço pessoal: podemos até compartilhá-los com a empresa, mas nos pertencem.
INTEGRIDADE. Sacrificar nossa integridade tem por consequência criar um volume imenso de estresse. Na medida em que percebemos que nossas ações e crenças não estão mais alinhados, é hora de deixar claro para a empresa que não desejamos mais fazer as coisas do jeito que ela quer. Se seu chefe ver isso como um problema, talvez seja hora de tomarmos outros rumos na vida.
RESUMO. O sucesso e a realização pessoal dependem de nossa habilidade em estabelecer limites. Quando conseguimos fazer isso, simplesmente todo o resto se ajusta em nossa vida.

Baseado no artigo When Should You Say No To Your Boss, publicado em https://www.linkedin.com/pulse/you-must-set-boundaries-around-your-work-dr-travis-bradberry


Como o supervisor deve falar de desempenho com sua equipe

Tommaso Russo
Um das principais preocupações de supervisores com pouco tempo de experiência no cargo é como dizer a um subordinado que seu desempenho não está adequado.
O quadro abaixo sugere uma sequência de ações que pode ajudar. 
É só clicar sobre a figura para ampliá-la.


Planos de Assistência Médica nas empresas caminham para a UTI


Tommaso Russo



Uma das utilidades das crises é chamar a atenção para gastos que, em tempos normais, são tratados como “naturais” nas organizações (tais como impostos).
Estamos falando dos custos dos planos de saúde, que têm atingido de forma incontrolável os gastos com pessoal. Em média, já representam mais de 11,5% da folha de pagamento, segundo dados da Marsh e como estão crescendo mais que inflação (da ordem de 8% acima do INPC nos últimos anos).
As causas do crescimento dos custos estão no excesso de utilização, mas principalmente, na evolução dos custos médicos propriamente ditos. O preço dos medicamentos é função direta da variação do dólar, um sem número de ações judiciais que exigem cobertura de itens não contratados, ampliação cada vez maior do rol de coberturas por parte da ANS, aumentos salariais das equipes de saúde acima da inflação, excessiva interferência governamental, etc. Ou seja, desequilíbrios que vão aumentando, esquecendo que alguém pagará a conta.
Essa situação já estava desenhando-se há pelo menos 5 anos, mas não despertava maiores cuidados, devido à boa forma financeira das empresas.
Muitas vezes por falta de gestão apropriada no passado, atos heroicos por parte das empresas aparecem ao tomarem conhecimento dos pleitos de aumentos dos prêmios pleiteados pelas operadoras de saúde. Grandes consultorias em saúde como a AON estimam que quase a metade de seus clientes vem solicitando estudos para a redução de custos. Em sua maioria, concentram-se nas seguintes ações:
Troca do plano atual por outros mais baratos, oferecidos pela mesma operadora ou por outras mais “populares”.
Introdução da coparticipação para planos que não a possuíam, possibilitando uma dedução de 8 a 12 % nos custos, pelo menos no início da adoção. Em geral, esse efeito vai diminuindo com o tempo.
Rebaixamento de categoria da rede credenciada, principalmente hospitais e laboratórios: destacam-se as operadoras que administram os próprios hospitais e com centros próprios de consultas médicas.
Eliminação de contribuição fixa pelos usuários (apenas a coparticipação em sinistros), eliminando-se a obrigatoriedade de cobertura para aposentados e demitidos, grandes causas de sinistralidade nos planos.
Em sentido oposto, aumento da parcela fixa de contribuição dos usuários, principalmente para dependentes. Em alguns casos, os dependentes pagam 100% do valor do plano ou são excluídos da cobertura. Na medida em que praticamente não mais existem planos familiares sendo comercializados, há enorme dificuldade por parte dos titulares em obter um plano para seus dependentes.
Em muitos casos, o problema apenas está sendo empurrado para frente, já que não existem perspectivas de solução a curto e médio prazo. A diminuição da massa de pessoas cobertas diminui pela incapacidade de pagamento das famílias, aumentando os riscos, o que gera menor ganhos de escala e maiores custos para as operadoras. Tratamentos cada vez mais longos e mais caros são oferecidos para doenças que eram incuráveis e a sobrevida de pacientes com câncer e outras doenças degenerativas aumenta a cada nova descoberta da medicina. Tudo isso custa.
Ou seja, as empresas começam a fazer novas perguntas ao RH (e o que o RH deve saber responder), prevendo situações ainda mais críticas:
Podemos simplesmente cortar os planos de saúde? (Como se trata de um benefício não obrigatório, esse benefício pode ser retirado, desde que o contrato dos funcionários não especifique o contrário, segundo a ANS. Mas deve ser feito para toda a carteira e não individualmente. Segundo advogados, cabe reclamação na Justiça do Trabalho e os sindicatos não deverão aceitar a situação passivamente).
Uma empresa pode "rebaixar" o plano dos funcionários a qualquer momento? Tirar instituições de ponta deixando apenas as médias? (O plano coletivo empresarial é oferecido a um empregado e é, normalmente de livre adesão. O contrato e a forma de reajuste são definidos entre a empresa e a operadora de plano de saúde. A empresa pode decidir mudar as condições do plano, e o beneficiário pode optar por permanecer ou não no novo contrato. Essas mudanças devem ser feitas à época da renovação da apólice ou na contratação com nova operadora).
Uma empresa pode, a qualquer momento, inserir modelo de coparticipação, em que o funcionário é cobrado por parte da consulta? (Para os planos coletivos empresariais, a forma como o benefício vai ser ofertado é uma deliberação da empresa e pode ser alterada no momento da renovação, com a modificação do plano, ou se houver nova contratação. Para que haja a inclusão da coparticipação, é necessária a contratação de um novo plano pela empresa contratante).
Até quanto a empresa pode cobrar coparticipação? (Não pode haver financiamento integral do procedimento por parte do consumidor nem restrição severa ao acesso aos serviços. A cobrança da coparticipação pode ser feita em valores fixos ou percentuais, aplicáveis a cada procedimento. Para internação hospitalar, porém, a cobrança não pode ser feita em valores percentuais, só fixos).
O exemplo da recente quebra da UNIMED Paulistana e os efeitos que trouxe a seus associados ilustra bem o que a somatória de má gestão médica e financeira, preços irrealmente represados pela ANS nos planos familiares e falta de foco nos sinistros pode resultar na estrutura da medicina suplementar brasileira.
As maiores operadoras de planos saúde existentes hoje ou são fundo de investimentos estrangeiros ou pertencentes a grupos seguradores ou bancários, com forte tendência de aquisição dos ainda independentes.  Na medida em que as obrigações do Estado no tocante à saúde foram terceirizadas para mais de 40 milhões de brasileiros, nosso futuro dependerá de taxas de retorno de capital que esse negócio propiciará para os acionistas.

Existe um divertido jogo chamado roleta mexicana, variação em grupo da roleta russa. Três pessoas, cada uma devidamente armada, aponta seu revolver para a cabeça de um dos oponentes. Ganha o jogo quem tem a chance de dar o segundo tiro. Aguardemos o primeiro disparo.


Referência: Jornal Folha de São Paulo - Caderno de Mercado -  25.10.15