Tommaso Russo
Metas mal definidas podem degradar o
desempenho, motivar comportamentos antiéticos e prejudicar as organizações.
Todos conhecem as características
que as metas devem possuir (específicas, mensuráveis, atingíveis, realistas e
baseadas em tempo), mas poucos reconhecem os perigos de metas mal definidas e
as consequências indesejáveis que daí resultam.
São mostrados abaixo quatro
problemas comuns com a definição de metas e que podem ser evitados, segundo trabalho da Harvard Business School.
1. Metas
específicas demais
O problema com metas muito
específicas é que podem distorcer o comportamento das pessoas de maneira
indesejável. Por exemplo:
- Se você
diz a um professor universitário que o mais importante é publicar artigos, o
que irá acontecer com sua atividade didática?
- Se você
define que o mais importante para um operador de telemarketing é a rapidez que
atende uma ligação, como ele vai atender ao cliente?
Metas muito específicas podem
prejudicar o desempenho da organização por distorcer a maneira a qual as
pessoas enxergam seu trabalho.
Metas melhores devem ser não tão
definidas. Isso dá às pessoas a possibilidade de decidir como desenvolver seu
trabalho. Quando metas mais vagas são dadas as pessoas, elas acabam
considerando mais fatores: em curto prazo, faz com que elas pensem por si
mesmas. È por isso que o controle sobre o próprio trabalho está muito ligado à
motivação das pessoas.
2. Muitas
metas
Então a solução, então, é definir
metas que abranjam todos os aspectos do trabalho das pessoas? Não
necessariamente, pois causa outros problemas.
As pessoas tendem a concentrarem-se
nas metas mais fáceis em detrimento das outras. Por exemplo, quando é fornecido
um objetivo ligado à quantidade e qualidade de um trabalho. Se for mais fácil
atingir a quantidade que a qualidade, a tendência é focar a quantidade.
Então, deve limitar-se a
quantidade de metas. Ademais, que tem 20 ou 30 metas a cumprir, na verdade não
possui meta alguma.
3. Foco
em metas de curto prazo
Um exemplo de metas de curto
prazo: o vendedor que atinge sua cota de vendas logo nas três primeiras semanas
do mês e “tira férias” na semana seguinte.
Se a organização prioriza as
metas de curto prazo, não há interesse na inovação e no desenvolvimento das
pessoas, aspectos de médio e longo prazo.
As empresas devem então cuidar
para que as metas de curto prazo não interfiram na visão de longo prazo, sem o
que sua sobrevivência estará comprometida.
4. Metas muito
difíceis
Quando as metas são muito
difíceis, as pessoas são estimuladas a fazer qualquer coisa para atingi-las,
incluindo comportamentos antiéticos.
Um exemplo dramático foi a de um
fabricante de discos rígidos para computador. Em 1989, para atingir as metas
financeiras, começaram a despachar tijolos no lugar dos discos rígidos. As
embalagens permaneceriam fechadas por algumas semanas em um armazém em Singapura,
enquanto o fabricante descontava as faturas correspondentes. Em pouco tempo, a
empresa faliu.
Este é também um exemplo de visão
de curto prazo. O que a companhia pensava quando os tijolos fossem descobertos,
como certamente seriam?
Da mesma maneira, quando
desafiadas com metas muito difíceis, as pessoas tendem a correr mais riscos. Em
algumas circunstâncias isso pode ser aceitável, em outras, não.
E não se trata apenas do quanto
desmotivadoras são metas difíceis. Como as pessoas se sentem em não atingir os
objetivos, mesmo que tenham chegado a 99% deles?
Assim, as metas devem ser
factíveis ao invés das chamadas “metas esticadas”. Com isso, as pessoas não
estarão tentadas a tomar atitudes antiéticas ou com riscos inaceitáveis para a
organização.
Regras para
a definição das metas
Todos os problemas mostrados são
muito aumentados quanto maiores forem os incentivos financeiros para atingir as
metas. Quando uma bolada de dinheiro está em jogo, metas mal definidas
distorcem ainda mais os comportamentos humanos.
O estudo de Harvard conclui:
“Ao invés de um remédio comprado
na farmácia sem receita médica, a definição de metas deve ser considerada como
um medicamento tarja preta, que requer dosagem cuidadosa para não causar
efeitos colaterais sérios e sujeito à supervisão atenta por parte do médico”.
Assim, as regras para a definição
de metas “boas” são:
- Metas
devem ser um pouco abstratas
- Metas
devem ser definidas com um olho no longo prazo
- Metas
devem ser limitadas em quantidade
- Metas não
devem ser difíceis demais
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