7 de setembro de 2010

O dilema do náufrago - Valorizando seus Talentos


Tommaso Russo

Vocês devem conhecer uma dinâmica de RH chamada o dilema do náufrago. O objetivo é demonstrar que decisões em grupo são melhores que as tomadas individualmente (infelizmente, nem sempre são).

A situação é simples: você está em um navio num cruzeiro pelo Pacífico. Uma noite, você é violentamente despertado por uma grande confusão e percebe que o navio está afundando. Há tempo apenas de alcançar os escaleres e salvar sua pele. No caminho, você apanha uma série de objetos que podem garantir sua sobrevivência no mar. O princípio do jogo é priorizar os objetos recolhidos pelos ocupantes do bote em função de sua utilidade e comparar o resultado com o gabarito do teste.

Não vou estragar o prazer de quem um dia fará essa dinâmica dando as respostas. Mas sua lógica nos provoca a refletir sobre coisas importantes na gestão das pessoas nas empresas.


Imagine agora que é sua empresa que está a bordo. O navio está naufragando, mas o negócio precisa sobreviver, pelo menos até o resgate.

Imagine também que seus colaboradores são os “objetos”. O espaço no bote é limitado e você deve escolher aqueles que devem ser salvos para que a empresa continue viva. Quem você escolheria?

O gabarito da dinâmica indica que, entre os itens essenciais para a sobrevivência do grupo, está um espelho (para sinalização). Na sua empresa, os Espelhos são aqueles que dominam os processos críticos do negócio - o tal de core-business. Muitos recursos foram investidos em seu treinamento, eles adquiriram grande parte do conhecimento dos produtos, são praticamente impossíveis de serem substituídos. Muitas vezes você até pensou em lhes oferecer sociedade no negócio. A perda desses profissionais para o mercado é simplesmente desastrosa.

No pelotão intermediário dos objetos úteis, estão 10m2 de plástico preto (abrigo do sol). Sua empresa possui funcionários Plásticos-Pretos. São os técnicos especializados, os analistas mais graduados e outros. Não possuem funções tão próximas ao core-business, mas conhecem seus ofícios e, em caso de perda, substituí-los pode dar trabalho e levar tempo.

Por fim, estão os itens que podem ajudar, mas que, se faltar espaço, podem ser deixados para trás. Um exemplo é um Kit de Pesca (não há muitos peixes no meio do oceano).

Claro, estamos falando de gente. Um ambiente motivador de trabalho, salários dignos, benefícios e satisfação profissional são fatores que os empresários procuram oferecer a todos os colaboradores. Mas os recursos financeiros e disponibilidade de gestão são necessariamente limitados (afinal, gerenciar é administrar a escassez).

Então, priorize seus recursos: para os Kits-Pesca (normalmente a maioria), salários de mercado (se possível um pouco menores), benefícios básicos, treinamentos operacio-nais e muita padronização nas atividades e processos dos quais participam.

Já para os Plásticos-Pretos, salários de mercado (se possível, um pouco maiores), foco no desenvolvimento, remuneração variável e bons benefícios.

Porém, são com os Espelhos que você deve agir para evitar insônias. Não necessariamente com salários cósmicos, mas cuidando de suas carreiras, fazendo-os participar de decisões e projetos importantes da empresa, promovendo programas de remune-ração diferenciados (incentivos de longo prazo podem fazer às vezes de uma sociedade), benefícios focados nos desejos específicos deles. E isso deve ser feito calma e sistematicamente, muito antes de ouvir as famosas últimas palavras que gelam os ossos de qualquer empresário:

- Chefe, recebi uma oferta irrecusável de um concorrente...

Publicado na Revista Liderança - Setembro de 2010

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