24 de setembro de 2011

Um novo jeito de enxergar os benefícios

 Tommaso Russo
Um impacto interessante da crise pela qual passa a economia americana e, por conseguinte, suas empresas, é a volta da discussão a respeito dos benefícios concedidos aos empregados.
O faturamento das empresas desaba (as pessoas não consomem tanto quanto em anos recentes) e as margens de lucro, já apertadas pela concorrência, estão sendo obtidas principalmente através do corte de despesas.
Vejam esses depoimentos:
Por mais de 40 anos a HP foi uma empresa inovadora, lucrativa, estava sempre no topo da lista das melhores empresas para se trabalhar e possuía os mais leais e dedicados colaboradores do mercado. Essas políticas atraiam os melhores talentos e investidores com visão de longo prazo, que recebiam seus dividendos religiosamente ano após ano. Com as últimas escolhas desastradas para o cargo de CEO feitas pela administração da HP, hoje os executivos são regiamente pagos, enquanto os empregados tiveram seus salários e benefícios reduzidos; os colaboradores não são mais ouvidos, de forma que os gerentes tomam decisões politicamente, apenas de olho nas suas próprias promoções, independentemente das consequências para suas equipes. O resultado: o que uma vez foi uma poderosa e respeitada corporação, hoje é uma sombra de si mesmo. O valor de suas ações afunda, na medida em que esse tipo de gestão atraiu apenas investidores especulativos, que se livram das ações da HP ao menos sinal de problemas...
A IBM era uma companhia que respeitava seus empregados, mas agora sua única obsessão é reconquistar o market share perdido. O resultado é que está cancelando todos os benefícios, demitindo funcionários e transferindo atividades para o exterior, ao mesmo tempo em que sobrecarrega de trabalho os que ficaram. A rotatividade está alta, devido ao nível de insatisfação reinante, reforçada pelo cancelamento das pesquisas de opinião e satisfação. Eles simplesmente não se importam com os empregados, atitude essa que, eu desconfio, é proposital: fazer com que os colaboradores se demitam para não pagar indenizações e, assim, atingir a custo baixo a meta de transferir 80% do trabalho para lugares onde a mão de obra é mais barata, como a Índia.
Ou seja, o dinheiro por lá anda curto e, normalmente, os primeiros itens a serem cortados são os benefícios.
Aqui no Brasil, certamente os próximos anos são serão tão exuberantes para as empresas como foi 2010 e o primeiro trimestre de 2011. É bastante provável que (de novo) estaremos em movimento de queda em 2012 e 2013.
Então, não será surpresa para ninguém que voltarão as pressões de redução de custos com pessoal. Mas a falta de disponibilidade de pessoas qualificadas no mercado continuará. Ou seja, o desafio é reter os bons nas empresas, em um quadro em que aumentos salariais significativos serão inviáveis e os custos com os benefícios só tendem a aumentar (no caso da assistência médica – a mais dispendiosa para as empresas - a concentração de mercado em 2 ou 3 grandes operadoras, insatisfação dos médicos credenciados, custos crescentes da medicina moderna, etc.), forçando muitas empresas a diminuir o padrão dos planos oferecidos aos empregados, ou simplesmente cortando-os.
 O que fazer?
Uma sugestão é começar a pensar em benefícios de uma maneira mais ampla, olhando além da assistência-médica-odontológica-empréstimo-consignado-vale-farmácia... Na verdade, essa reinvenção dos benefícios está ocorrendo hoje, nos Estados Unidos, pelos motivos expostos acima.
O novo mantra é: iniciativas baratas, mas que são valorizadas pelos diversos públicos que encontramos entre os colaboradores da nossa empresa. Alguns exemplos:
  • Redesenhar os ambientes de trabalho, que incentivem o trabalho em equipe, mas que ofereçam espaços para privacidade e conversas informais;
  • Prever espaços onde os colaboradores possam relaxar alguns minutos durante o expediente e até incentivá-los a dar umas paradas ao longo do dia;
  • Fornecer alimentação saudável e de boa qualidade ao menor custo possível para os colaboradores. Se eles utilizarem locais próximos à empresa para almoçar, oferecer orientação alimentar através de nutricionista contratado pela empresa;
  • Induzir junto às chefias e executivos uma postura de tratar as pessoas com respeito e atenção, o tempo todo, fazendo-os adquirir o hábito de reconhecer explicitamente o trabalho desenvolvido pelos subordinados;
  • Estabelecer programas que proporcionem aprendizado e desenvolvimento aos colaboradores, tanto profissionalmente como enquanto pessoas e futuras chefias;
  • Fazer os gestores visualizarem a empresa além do horizonte do lucro imediato, estabelecendo um significado para o trabalho e fazendo-os sentirem-se bem em relação ao lugar onde trabalham;
  • Permitir que as mães possam trazer seus bebês ao trabalho, durante o período de amamentação;
  • Providenciar espaço para que uma manicure possa atender as colaboradoras em seus horários livres;
  • Instalar computadores ligados à Internet de forma que o pessoal de chão de fábrica possa pagar contas e enviar e-mails no horário de almoço ou entre turnos de trabalho;
  • Reunir regularmente o pessoal após o expediente para uma sessão de vídeo, com direito a pipoca e refrigerantes.
As organizações devem usar sua criatividade. O fundamental é que os colaboradores sintam-se valorizados enquanto pessoas e que percebam que a empresa preocupa-se com elas.


Para mais informações a respeito da situação do ambiente de trabalho em empresas americanas, veja (texto em inglês) http://blogs.hbr.org/schwartz/2011/09/the-twelve-attributes-of-a-tru.html e os comentários dos leitores.

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