13 de dezembro de 2011

Presentes de Natal para Recursos Humanos

Tommaso Russo

Querido Papai Noel:

Neste ano, acho que me comportei bem. Me esforcei bastante: nenhum colega recebeu seu contracheque com atraso, apesar de todos os meses eu receber pedidos de mudança de salários 2 horas antes de rodar a folha.

Mesmo com o corte de 40% nos custos, consegui que não houvesse muitas reclamações sobre a comida servida no refeitório (exceto no caso da salada de folhas de mandioca brava, mas foi só uma tentativa de ser criativo).

Viramos noites e finais de semanas para instalar e testar os novos relógios de ponto, só para saber uma semana depois que o Ministério do Trabalho adiou de novo os prazos. Tudo bem, aceitei a bronca do chefe sobre a despesa desnecessária, pois se ele não entendeu minha visão proativa, é que tive um problema de comunicação (a responsabilidade é do emissor, né?).

Também acho que fiz um bom trabalho no preenchimento das vagas. Mesmo com os salários da empresa muito abaixo do que os candidatos pediam, dei um jeito e achei ocupantes para todas. Os solicitantes não ficaram muito satisfeitos com os candidatos, mas com R$ 1.200 para um Analista de Sistemas Sr. com 10 anos de experiência e alemão fluente, fiz o melhor que pude.

Papai Noel, todos os anos nesta época eu fico pensando naquilo que eu gostaria de ganhar como presente de Natal.  Durante o ano, muitos desejos me vêm à cabeça, mas como não tenho muito tempo, esqueço-me de anotar e mais um ano acaba e no Natal recebo algumas lembrancinhas, fico feliz, mas tenho certeza que não é bem aquilo do que eu realmente precisava.

Mas neste ano, escrevi direitinho tudo o que eu queria para pedir para o senhor. A lista ficou enorme. Mas como sei que o senhor mora na Europa, e a crise lá tá brava, resolvi maneirar nos pedidos e eu quero só isso:
  1. Um pouco mais de tempo para planejar – não que eu esteja reclamando, mas 3 dias para montar um curso completo de liderança com 4 horas-aula para os supervisores e 2 dias para correr atrás de treinamento de negociação para 35 vendedores do Brasil todo é meio corrido. O pior é ter que definir os conteúdos, pois a ordem que recebo é “eu quero esse pessoal treinado, que os resultados estão ruins: te vira!”.
  2. O módulo de RH no sistema de ERP da empresa - eu sei que um sistema desses é caro, mas já que estão implantados os módulos de contabilidade, finanças, estoque, logística, jurídico, CRM e CCT (controle do campeonato de truco), talvez agora lembrem que um sistema de RH integrado com a Folha ajudaria bastante meu trabalho.
  3. Gente qualificada – até que acho legal que pessoas de outras áreas sejam transferidas para o RH por ordem da empresa, porque caso contrário as coitadas seriam desligadas por não terem mais função. O problema é a falta de tempo para ensinar o ex-analista de PCP, a ex-secretária do gerente demitido, o ex-vendedor da extinta filial de Pirapora do Bom Jesus e a ex-recepcionista com 20 anos de casa, que têm boa vontade, mas sabem pouco sobre nossos assuntos. É também chato escutar que nossa área tem um monte de gente, mas que não funciona. Seria possível um analista pleno com experiência para me ajudar?
  4. Uma pesquisa salarial – pode ser uma coisa modesta, mas pelo menos eu não teria que ficar ouvindo dos gerentes que estamos perdendo nossos indispensáveis talentos porque pagamos pouco e ouvindo do dono que os salários que a empresa paga são os melhores do mercado. Um plano de cargos e salários bem feito também ajudaria.
  5. Participar do planejamento anual – se o RH soubesse das metas e dos problemas que a empresa quer resolver no ano, talvez pudesse ajudar na melhoria da produtividade, em montar cursos adequados, em melhorar o perfil das pessoas no processo de recrutamento, bolar um sistema de avaliação de desempenho, programas de motivação...(Eu juro que guardo segredo do faturamento da empresa!)
  6. Cursos de aperfeiçoamento – muita coisa nova aparece em RH que pode contribuir muito para os negócios da empresa. Mas para isso, nossa equipe precisa participar de bons cursos e treinamentos. Isso demanda um pouquinho mais de investimento da empresa (não é muito comparado com o valor do carro novo do diretor).  Não quero parecer ingrato, mas visitar a feira do CONARH uma vez por ano e participar de palestras grátis no CIEE não estão sendo suficientes.

Papai Noel, espero que essa seja a última cartinha que eu tenha que enviar para poder conseguir o que preciso para fazer bem o meu trabalho. Gostaria que em 2012 o RH fosse considerado como alguém que está na idade adulta e que tem a capacidade de contribuir para o negócio. Basta um pouco de recursos e oportunidade: o resto a gente conquista.

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