Tommaso Russo
As novas gerações entrantes no mercado de trabalho
valorizam a flexibilidade em sua rotina, mas também anseiam pela flexibilidade ao
longo de suas vidas. É comum a mudança
de cursos nas universidades, simplesmente pelo desejo de experimentar alguma
coisa nova, mais alinhada com seus interesses de momento. É evidente que
desejam a mesma flexibilidade no ambiente de trabalho. Esperam que haja sempre
novos desafios e a possibilidade de viver novas experiências ao longo de toda
sua carreira profissional. Quando a empresa não estabelecem possibilidades,
simplesmente se vão, em busca de gramados mais verdes.
Cabe às empresas disponibilizar todas as opções disponíveis
de funções e atividades para mantê-los interessados. Pergunte a eles o que
desejam alcançar no futuro e deixe claro exatamente o que eles devem fazer para
chegar lá.
Organizações que têm compromisso com seu próprio
futuro estão cientes que sem a estruturação de políticas de ascensão na
carreira para as novas gerações, ficarão reféns da “ingratidão” e “falta de
compromisso” dos profissionais que, um dia, irão comandá-las. No mínimo, estão
preocupadas com a retenção de seus talentos, o que dá no mesmo.
Genericamente, essas políticas recebem o nome de
Planos de Carreira.
Por que formalizar planos de carreira?
- Proporcionam uma visão clara para o colaborador das
possibilidades de ascensão profissional na empresa – a escolha da trajetória a
ser seguida irá depender dos interesses do colaborador, das estratégias e
consequentes necessidades da empresa a médio prazo e do alinhamento entre as
“vocações” do profissional - em muitos
casos, descobertas durante um trabalho de coaching
– e as características da carreira pretendida.
- Incentivam o desenvolvimento técnico dos colaboradores
(instrução, conhecimento, habilidades) – os cargos possíveis a serem
percorridos devem estar perfeitamente definidos em relação aos conhecimentos
(formais ou específicos), habilidades e comportamentos requisitados ao seu
ocupante; dessa forma, é possível que o profissional planeje seu desenvolvimento (oferecidos ou
não pela empresa) de maneira objetiva.
- Encorajam os
colaboradores a descobrir e explorar seus potenciais – o entendimento das
trajetórias possíveis de carreira pode abrir novos horizontes e provocar
interesses insuspeitados pelo colaborador.
- Priorizam a
utilização de pessoal interno no preenchimento de vagas disponíveis – o aproveitamento
do pessoal interno não pode ser apenas uma reação pontual à escassez de pessoal
qualificado no mercado; deve fazer parte da estratégia da formação do capital
humano das empresas; profissionais promovidos a partir dos próprios quadros da
empresa apresentam desempenho melhor e custam menos que trazer gente do
mercado.
- Propiciam a
definição de planos de sucessão (preparação
de substitutos via carreira) – principalmente em relação aos cargos críticos da
empresa, os planos de carreira devem enfatizar a formação de sucessores
capacitados para substituir perdas de profissionais para o mercado.
As etapas para a montagem dos planos de carreira
Um plano de carreira é mais do que atribuir gradações
aos cargos. Significa efetuar uma análise profunda dos processos e suas
complexidades nas diversas linhas de atuação dos profissionais da empresa.
- Reveja
suas descrições de cargo: elas são condizentes com os fluxos dos processos
desenvolvidos na empresa? As etapas do processo possuem “donos” identificáveis?
Como avaliamos que cada etapa foi bem feita ou atingiu os resultados esperados?
Quais são os desafios e complexidades enfrentadas pelo ocupante em suas
atividades?
- Seus
analistas Jr, Pl e SR realizam efetivamente tarefas de diferentes complexidades
(ou seja, existem atividades que, por sua complexidade, só podem ser
desenvolvidas por analistas seniores?), ou todos fazem as mesmas coisas e as
gradações só são utilizadas como justificativa para o pagamento de salários
diferentes? O mesmo vale para outros cargos na organização (Auxiliares de
Produção e Operadores de Máquinas; Líderes e Supervisores; Auxiliares,
Assistentes e Analistas). Se for
preciso, elimine gradações desnecessárias, padronize os cargos e trate as
diferenças salariais. Cada cargo deve ter sua especificidade e agregação de
valor diferente; deve assumir responsabilidades menos complexas que cargos
situados em níveis superiores.
- Defina
exatamente os conhecimentos (escolaridade e outros) efetivamente necessários
para o ocupante de cada cargo. Não exija a fluência em uma segunda língua para
um cargo que só precisa de noções básicas para desenvolver perfeitamente suas
atividades. Para muitas funções, o ensino
médio é suficiente – os conhecimentos adicionais podem ser obtidos através de
treinamentos ou cursos específicos.
- Defina
suas carreiras, sempre observando a empresa como um todo. Quais são os pontos
comuns que podem aproximar um profissional da Produção da carreira em RH? Um
Analista Financeiro pode ocupar um cargo na área de Administração de Vendas –
esses dois cargos podem ter muita coisa em comum. Um Executivo de Contas pode
contribuir no desenvolvimento de novos produtos?
- Desenhe
as trajetórias possíveis, começando pelos menores cargos (chamados cargos de
entrada na organização); elabore alternativas dentro de uma única carreira ou
entre carreiras distintas. Preveja movimentos laterais, às vezes necessários.
Para isso, pode ser utilizado um diagrama simples que relacione os diversos
cargos com os respectivos graus (veja exemplo abaixo).
- Identifique
os cargos críticos e defina exatamente as necessidades em termos de sucessão a
curto e médio prazo. Se necessário, crie “atalhos” nas trajetórias para
disponibilizar o mais rapidamente possível sucessores minimamente preparados
para assumir esses cargos em casos de urgência.
- Estabeleça
políticas claras de divulgação interna das vagas disponíveis e induza
comportamentos que assegurem que as chefias não se sintam “donos” de seus
subordinados, mas sim que ajam como facilitadores do desenvolvimento de
subordinados para a empresa e não para suas áreas apenas.
- Estimule
o feed back das chefias aos colaboradores, quer através dos ciclos regulares de
Avaliação de Desempenho, quer informalmente, no dia-a-dia. Sem orientações
objetivas e construtivas, esses profissionais não conseguem apreender os
desafios e a necessidade de melhorias constantes em suas ações e
comportamentos. Desinteressam-se e desmotivam-se.
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