27 de fevereiro de 2014
Liderando equipes técnicas – PARTE 2
Tommaso Russo
Na edição de janeiro deste blog, foram discutidos aspectos
relativos aos problemas e desafios da liderança de equipes técnicas, frente às
demandas bastante particulares desses colaboradores. Nesse contexto
encontram-se as áreas de Pesquisa e Desenvolvimento, Desenvolvimento em TI,
Engenharia, Direito, etc.
Elencamos agora as cinco principais recomendações para ações de
desenvolvimento para os líderes de equipes técnicas.
Recomendação nº 1 – Ser líderes de pessoas, não coordenadores de
projeto
Líderes de colaboradores técnicos precisam
conhecer o contexto de seu papel, já que às vezes o conceito “liderança” não é
claro para eles, principalmente na diferença entre liderar e gerenciar tarefas
ou projetos. Devem compreender no que consiste a verdadeira delegação de
autoridade – isto é, disponibilizando aos subordinados orientação, apoio e
inspiração e não impondo formas e metodologias de trabalho.
·
É
preciso superar sua tendência ao microgerenciamento, mesmo quando acham que
essa é a melhor maneira de conduzir o trabalho. Isso significa delegar mais a
agir como coach da equipe.
·
Também
é necessário que motivem pessoas a utilizar da melhor forma seus talentos e
conhecimentos, que podem ser únicos na organização. Isso é liderar e não
supervisionar.
·
Devem
ser excelentes em comportamentos que são, para a maioria desses líderes, muito
difíceis de praticar: motivar, apoiar a inovação e a exposição ao risco, gerenciar
as mudanças e desenvolver seus subordinados.
Ações de
desenvolvimento:
A
organização precisa definir claramente o que entende por “liderança” e quais
são suas expectativas em relação aos líderes; esse treinamento deve ser
oferecido logo após a promoção de um técnico a um cargo de chefia.
Recomendação nº 2 – Entender
o que faz vibrar o pessoal técnico (mesmo que o líder seja um deles)
Pessoal
técnico, em geral, é relativamente deficiente no autoconhecimento. Isso vale
para a maioria dos empregados, mas o desafio é maior quando se trata de
colaboradores especialistas com alto nível de inteligência.
Simplesmente
listar os desejos dos subordinados não é suficiente para provocar uma mudança
de comportamento da chefia. É necessário criar oportunidades para observar essa
dinâmica no dia-a-dia e de como o líder pode beneficiar-se em entender melhor –
e responder – aos desejos e aos elementos motivadores de seu pessoal.
Técnicos
especializados nos diversos negócios e nas várias especialidades podem não
falar a mesma linguagem, mas têm características semelhantes. Esses
especialistas exibem uma grande necessidade de realização, autonomia, apoio e
troca de informações científicas – mantendo-se atualizados e profissionalmente
identificados – além de participar na definição da missão e objetivos de seu
trabalho.
Dessa forma, os líderes devem aplicar
suas habilidades de liderança de forma estratégica. Esse desafio vai além do bê-a-bá.
Exige, por exemplo:
·
Definir
e apoiar objetivos e metas sem bater de frente com o desejo por autonomia de
sua equipe.
·
Delegar
responsabilidade de forma a envolver os membros da equipe nos processos de
decisão, conectando seu trabalho às grandes metas da organização.
·
Disponibilizar
oportunidades de desenvolvimento e de networking, de forma a manter as pessoas
atualizadas, fazendo-as sentirem-se tecnicamente apoiadas.
·
Promover
um ambiente de trabalho que incentive a criatividade e realizações individuais,
ao mesmo tempo focando os objetivos do grupo e as prioridades organizacionais.
·
Aumentar
sua tolerância ao risco e inovação, podendo assim suportar melhor o desejo de
sua equipe em desenvolver trabalhados desafiadores (assim como as prioridades
da organização em fazer melhor, mais rápido, mais barato, etc.)
Ações
de desenvolvimento:
·
Primeiramente,
construir no líder a consciência das necessidades individuais e únicas dos
membros da equipe.
·
Apoiar
a descoberta dos pontos fortes e as necessidades de desenvolvimento do líder em
seu novo papel.
·
Assegurar
que os objetivos da área estejam claramente definidos, sem impor um método ou
procedimento para atingir essas metas. Focar em parâmetros tais como orçamento,
prazos e recursos – o que está disponível para executar o trabalho, não como
fazê-lo.
·
Conversar
com a equipe sobre os riscos e as possibilidades de erros: quais são as chances
de sucesso e quais seriam as consequências desses erros? Assegurar que os
membros da equipe estejam confortáveis em assumir riscos razoáveis para inovar.
·
Como
líder, aprender a dividir com os subordinados suas próprias motivações, quem é
você e o que é importante para você. Fazer da sua liderança algo pessoal e não
apenas um cargo na organização.
Recomendação nº 3 – Ser especialista para liderar, não para executar
A ironia em chefiar um time de
técnicos e especialistas é que provavelmente possuir a maior expertise do grupo
é uma desvantagem e não uma vantagem. Líderes técnicos devem aprender a colocar
sua proficiência em segundo plano para liderar de maneira efetiva – o que não é
fácil para pessoas que foram reconhecidos até o momento pelo seu mérito
técnico. Os líderes devem confiar em sua equipe e não em seu próprio
conhecimento para entregar os resultados esperados. É um equilíbrio difícil, já
que o líder deve mostrar conhecimento suficiente para ser respeitado sem por a
mão na massa e tornar-se o “solucionador de problemas”.
É aí que a delegação tem seu papel – a
habilidade de definir os parâmetros necessários, deixando a equipe assumir o
trabalho sem que se os membros sintam-se intimidados.
A maioria daqueles que assumiram a
chefia de equipes técnicas subiu na hierarquia pelo seu conhecimento técnico,
não pela sua habilidade em lidar com pessoas. Eles valorizam sua expertise. Mas
sua nova função é entregar resultados através dos outros; precisam então
perceber quanto conhecimento é “apenas suficiente” para liderar um time de
especialistas. Estabelecer esse equilíbrio é difícil. Eles devem priorizar o
fornecimento de habilidades e do conhecimento à sua equipe e devem, ao mesmo
tempo, ser extremamente seletivos em seu próprio desenvolvimento.
Ações de desenvolvimento:
·
Mudar
o foco do líder do “fazer” para o de “liderar”. Obter habilidades em delegar e
definir objetivos de modo participativo. A delegação efetiva permite o
crescimento dos outros e constrói confiança.
·
Definir
roteiros para a tomada de decisões, deixando claro para aos membros da equipe
suas responsabilidades e escopo de atuação. Encorajar os subordinados a ampliar
seu leque de responsabilidades.
Recomendação nº 4 – Estabelecer um clima de confiança através do
diálogo construtivo com os membros da equipe
Para obter um melhor alinhamento entre as chefias e os
subordinados no ambiente de trabalho, os líderes devem conquistar a confiança
da equipe e desenvolver um diálogo produtivo.
·
Devem
investir na comunicação – estabelecendo metas, explicando “o porquê” do “o quê”,
lidando com resistências e disponibilizando feedback contínuo. De outra forma,
os membros da equipe não terão a informação e a motivação necessária para tomar
a iniciativa.
·
Devem
conhecer os membros do time para saber como são percebidos como líder por eles
e que tipo de interação é mais adequado para a equipe
·
Líderes
devem saber que confiança é uma via de mão dupla: devem conquistar a confiança,
mas também devem confiar na equipe.
Ações de desenvolvimento:
·
Obter
a percepção de como suas ações são percebidas pelas pessoas e pelos
subordinados, independente das intenções.
·
Construir,
manter e aprimorar a confiança através de feedbacks honestos e regulares.
·
Utilizar
algum mecanismo de benchmarking e de controle de sua efetividade como líder.
Estar aberto ao feedback e estar pronto a flexibilizar seu estilo em favor das necessidades
da equipe.
Recomendação nº 5 – Aumentar
sua influência fora de sua área ou departamento
Os líderes em ambientes técnicos são
os porta-vozes de sua equipe e de sua contribuição para os objetivos da
organização – eles devem comunicar-se de maneira efetiva com o restante da
empresa e promover a visibilidade e credibilidade de sua área. Esse é parte do
papel da chefia que, frequentemente, está fora de sua zona de conforto e de
suas competências. Enquanto habilidades em apresentações e comportamentos em reuniões
podem ajudar, um foco na habilidade de influenciar pessoas e no conhecimento do
negócio como um todo vai possibilitar a esses líderes mostrar no que sua área
beneficia a organização, bem como conhecer quais são os interesses e estilos
das pessoas das outras áreas.
Esses líderes precisam estar menos
isolados, construir relacionamentos colaborativos e saber comunicarem-se
efetivamente com todos os níveis da organização.
·
Essas
chefias devem ser capazes de traduzir as competências, ideias e conquistas de
sua equipe para seus colegas não técnicos. Devem saber exercer influência sobre
outras áreas para conseguir os recursos ou promover novas ideias.
·
Gostando
ou não, muitos desses líderes são envolvidos em aspectos da estratégia do
negócio, já que sua área é vital no desenvolvimento, disponibilização e suporte
técnicos dos produtos da empresa. Dessa forma, alargar seu conhecimento sobre
as características do negócio é uma necessidade fundamental em seu
desenvolvimento.
Ações de
desenvolvimento:
·
Investir
tempo na aprendizagem de como funciona a organização como um todo. Aprender a
falar a linguagem dos negócios e a de outras áreas, não se limitando ao domínio
técnico de sua especialidade.
·
Aprender
a relacionar a contribuição de sua área com os resultados da organização.
Exprimir essa contribuição em termos que estejam alinhados com outros
departamentos, não apenas em parâmetros puramente técnicos – por exemplo, em
que o cliente será beneficiado com o desenvolvimento de um novo produto?
·
Aperfeiçoar
habilidades de influência e de comunicação através de treinamento e prática.
Buscar oportunidades para expor-se fora dos canais habituais de comunicação.
·
Incentivar
para que os membros da equipe também participem dos processos de comunicação –
não assumir que apenas o líder é o porta-voz da área.
·
Construir
um ambiente de parceria com o superior imediato e outros líderes seniores da
organização: com isso, novos canais de visibilidade da área podem ser abertos.
Fonte: Report 2013 – Leading Technical People – GP Strategies / Blessing
White Research
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