Tommaso Russo
29 de março de 2014
Porque os programas de desenvolvimento para lideranças falham
Tommaso Russo
Já
há muito as organizações, em todo o mundo, têm investido muito tempo e recursos
para melhorar as competências das chefias e na formação de novas lideranças.
Em
pesquisas realizadas com 500 executivos de empresas americanas, dois terços
deles indicaram o desenvolvimento da liderança como sua maior prioridade, tanto
para o presente quanto para o futuro. Entretanto, 30% dos altos executivos nos
EUA admitem não terem aproveitado das oportunidades oferecidas em seus negócios
internacionais por não contarem com líderes com as competências corretas para
isso em quantidade suficiente.
Ou
seja, boa parte dos programas atuais para formação de líderes não funcionam. A
partir das observações sobre o que deu certo e o que não deu, foram
identificados os 4 principais erros que impedem que o desenvolvimento de
lideranças atinja seus objetivos.
O contexto não é considerado
O
contexto dentro do qual a liderança opera é crítico para seu sucesso. Um líder
brilhante em uma determinada situação poderá não atingir o mesmo desempenho em
outra situação diferente. Por exemplo, um CEO pode apresentar resultados
excepcionais quando o mercado expande-se rapidamente, mas não consegue fornecer
uma direção clara ou impor disciplina financeira quando o mercado passa, por
exemplo, por uma recessão. Ele pode insistir em uma estratégia de inovação e
mudanças – à qual o mercado não responderá – até que acabe sendo demitido por
falta de resultados.
As
ações de treinamento e desenvolvimento de líderes baseiam-se na premissa que um
mesmo conjunto de competências e estilos de liderança serve para todos, independentemente
da estratégia, da cultura organizacional e do estilo do CEO.
O
foco no contexto implica que ao invés de uma lista enorme de padrões e
comportamentos, a liderança deve ser equipada com um número pequeno de
competências (duas ou três), essenciais para o sucesso do negócio em situações
diferentes – por exemplo, tomada de decisões e gestão de pessoas. Ou seja, a
pergunta a ser feita é “desenvolver a liderança para quê?”.
Programas desconectados com o trabalho na vida real
Ao
definir o currículo dos programas de desenvolvimento de lideranças, as
organizações devem considerar um delicado equilíbrio: por um lado, as vantagens
de cursos e treinamentos externos (por exemplo, os oferecidos em escolas de
administração) que permitem ao participante um tempo fora do dia a dia na
empresa, necessário para a reflexão. Por outro lado, mesmo em treinamentos
básicos, adultos raramente retém mais de 10% dos conteúdos recebidos em sala de
aula, contra a retenção de mais de 60% quando se aprende fazendo. Além disso,
raros são os líderes, mesmo os mais talentosos, que conseguem implementar
mudanças em seu comportamento a partir de experiências fora do trabalho.
A
resposta então é obvia: conectar as ações de desenvolvimento a projetos reais,
que tenham um impacto real na empresa e que ofereçam oportunidades de
aprendizagem. Essas oportunidades, entretanto, não são fáceis de criar, mas,
quando viáveis, possuem uma eficiência muito maior no desenvolvimento dos
líderes. Por exemplo, fazer com que participantes do programa participem de
projetos importantes, multifuncionais, e que coloquem os treinando em situações
que estimulem mudanças em seu comportamento – como fazer uma pessoa com
problemas de inibição participar ativamente de um processo de negociação com um
cliente importante.
Menosprezar o modelo mental do participante
Para
tornar-se um líder melhor, muitas vezes são necessárias mudanças em
comportamentos. Embora as organizações reconheçam que isso signifique mudar o
modelo mental das pessoas, elas são relutantes em determinar e agir nas causas
pelas quais as pessoas agem daquela forma. Lidar com isso pode ser muito
desconfortável para o participante, para os instrutores, mentores e chefias –
mas se não houver um grau significativo de desconforto, a probabilidade é de
que o comportamento do participante não mude.
Identificar
os sentimentos, pensamentos, crenças e preconceitos que estão escondidos dentro
das pessoas é pré-condição para a mudança comportamental – mas esse ponto é
pouco explorado nos programas e treinamentos. Promover as virtudes da delegação
e “empowerment” da equipe é muito bonito na teoria, mas se o treinando possuir
um perfil centralizador e de desconfiança nos subordinados, certamente ele não
conseguirá fazê-lo, a não ser que essa atitude seja trabalhada e a resistência,
quebrada.
Não medir os resultados
Muitas
organizações não medem despesas para os programas de desenvolvimento das
lideranças, mas não têm nenhuma evidência para quantificar o valor (retorno)
desse investimento. Quando as empresas não conseguem acompanhar e medir as
mudanças no desempenho da liderança ao longo do tempo, elas aumentam as chances
de que seu esforço não seja levado a sério – ou seja, qualquer resultado serve
– e as oportunidades de aprendizagem são equivalentes, para o participante, a
melhorar a assistência médica da empresa.
Uma
das formas de medir o efeito dos programas é avaliar a intensidade observada
das mudanças comportamentais nos participantes – talvez através de avaliação
360°, sendo a primeira feita no início dos treinamentos e outras após 6 e 12
meses.
Outra
abordagem é monitorar a carreira dos participantes após o programa. Quantos
foram indicados para promoção após um ou dois anos? Quantos participantes
deixaram a empresa? Qual foi o desempenho das áreas subordinadas a líderes que
participaram comparadas com outras cujos líderes não participaram? Como foi a
evolução dos resultados (indicadores de processos, custos, etc.) dos líderes
treinados após o final do programa? E as respectivas equipes: o que aconteceu
com a rotatividade e com o absenteísmo? Qual foi a evolução dos resultados da
pesquisa de clima das áreas?
Apenas
com o uso de indicadores é possível avaliar a eficácia do programa de
desenvolvimento e promover mudanças para que se torne mais efetivo e resulte,
ao fim e ao cabo, em fator de melhoria dos resultados da organização como um
todo.
O material apresentado é um resumo do
artigo “Why leadership-development programs fail”, publicado na revista
McKinsey Quarterly – Janeiro de 2014. O artigo completo (em inglês) pode ser
obtido no endereço http://www.mckinsey.com/insights/leading_in_the_21st_century/why_leadership-development_programs_fail
Marcadores:
liderança,
Treinamento e Desenvolvimento
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