30 de abril de 2014
Contratar devagar, demitir rápido
Tommaso Russo
Muitas empresas têm o hábito de contratar
rápido e demitir devagar. Uma tendência para ser “ágil”, combinado com a
pressão por resultados, faz com que as chefias sejam muito rápidas para
contratar um novo funcionário (precisamos preencher essa vaga já), mas são lentos para remover
empregados de baixo desempenho, pois estão sempre muito ocupados e não gostam
de enfrentar situações desgastantes e desagradáveis com pessoas.
Demitir pessoas pode parecer cruel, mas
alguns argumentos provam que é a alternativa mais humana que as demais.
Em primeiro lugar, a sociedade e o país não
precisam de empresas burocráticas e inchadas, cujo destino final é desaparecer.
Queremos organizações dinâmicas, saudáveis, capazes de crescer e empregar cada
vez mais pessoas por muito tempo.
Segundo, não é justo manter um colaborador e
fazer a equipe inteira sofrer como resultado. Precisamos de times nos quais
cada um confie em seu colega para trabalhar bem e dar resultados. Se “demitir
rápido” parece duro, considere quão duro é manter um grupo de pessoas refém de
alguém que nem sequer deveria ter sido contratado em primeiro lugar. E já
estamos falando nisso, não ter coragem não é a mesma coisa de ter pena das
pessoas.
Terceiro, forçar alguém a ser alguma coisa
que ela não é não é nem sustentável nem humano. Não vai ajudar manter alguém no
cargo errado, dando os mesmos feedbacks negativos mês após mês, ano após ano.
Se uma posição mais adequada pode ser encontrada dentro da própria empresa,
tanto melhor. Mas se a pessoa realmente não serve, dar-lhe um outro cargo não é
a resposta. Apenas transfere o problema para outra área.
“Contratar devagar e demitir rápido” começa
sendo absurdamente seletivo naquele que a empresa contrata. Os critérios de
seleção devem ser tão rígidos que a maioria das pessoas não seria aprovada para
trabalhar na organização. Deve-se tentar atrair as poucas pessoas certas e não
a massa. É melhor não ter todas as vagas preenchidas do que contratar pessoas
erradas.
Mas também significa demitir com respeito.
Pode parecer uma contradição em termos, mas “demitir” não significa a prática
tradicional e desagradável de por as pessoas para fora humilhando-as. Não é
pegar as pessoas com quem trabalhamos e expulsá-las como criminosos. É
plenamente possível demitir uma pessoa humanamente.
Um líder de uma empresa do vale do Silício
percebeu que tinha cometido um erro na contratação de um técnico. Ele poderia
tentar esconder seu engano e promover incontáveis rodadas de feedback e
recomendar planos inúteis de desenvolvimento. Mas nesse caso, dificilmente dar
certo, já que o problema era um choque de personalidade: o técnico tinha um
comportamento mais agressivo que a cultura da empresa, o que estava causando
sérios atritos com todos na equipe.
Ao invés, após duas semanas observando os
efeitos que o novo colaborador estava causando no grupo, o líder chamou-o de
lado e disse: “Eu não acho que seu perfil se encaixa na nossa cultura. Não
vamos forçar a situação. Você é talentoso e capaz, mas simplesmente não combina
conosco”.
O processo ocorreu tão bem que todo o grupo,
incluindo o técnico demitido, saiu para tomar uma cerveja naquela noite. A
empresa pagou por um processo de recolocação, ajudando o técnico a encontrar
outra empresa onde seu perfil encaixasse melhor.
“Contratar devagar e demitir rápido” pode
fazer com a “densidade de talentos” da organização aumente consideravelmente
com o tempo. Não é fácil. Implica em diálogos difíceis e em coragem. Demanda liderança
efetiva. Mesmo assim, se conseguirmos praticá-lo bem, a organização, as equipes
e as pessoas vencerão.
Fonte: “Hire Slow, Fire Fast”, publicado em http://blogs.hbr.org/2014/03/hire-slow-fire-fast/
Marcadores:
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