Tommaso Russo
O
simpático passarinho da fotografia é chamado engana-tico, também chamado de
chupim. É conhecido pelo hábito de colocar seus ovos no ninho de outras aves,
para que as mesmas possam chocá-los, criá-los e alimentá-los como filhotes. São
diversas as espécies parasitadas por essa ave, mas a mais comum de se ver
alimentando um filhote de chupim é o tico-tico.
Há
o correspondente humano do engana-tico e tenho a certeza que você conhece
muitos. Na verdade, são os colaboradores que constituem verdadeiros pesadelos
para as empresas.
São
em geral pessoas de saúde fraca (pelo menos, visitam regularmente médicos para
conseguir atestados). Nunca estão do posto de trabalho quando se precisa deles.
São mestres na enrolação e roubam o quanto puderem tempo no trabalho, no
vestiário, no banheiro e na volta do almoço. Estão sempre próximos do limite nas
regras, mas nunca ultrapassam esse limite. Fazem o estritamente necessário para
se manter no emprego, mas nunca se desenvolvem profissionalmente e fazem apenas
“o que são pagos para fazer”, ou seja são de uma falta de entusiasmo
paralisante.
Os
engana-ticos são mestres em criticar a empresa, nunca através de formas
aceitáveis, mas pelo e-mail, no cafezinho e no refeitório. São contra qualquer
política da empresa e seu descontentamento contamina os colegas, já que estão
sempre reclamando, fofocando e criticando tudo e todos.
Seja
qual forem os comportamentos que os engana-ticos demonstrem, eles não vão
melhorar sem a intervenção da organização. Maus hábitos, assim como os bons
hábitos ficam entranhados se não forem removidos rapidamente.
O impacto dos engana-ticos
Esse
tipo de pessoa impacta de maneira negativa o ambiente de trabalho e as pessoas
que ali estão, de maneira constante e insidiosa. Os colegas um pouco mais
espertos tentam ignorar os engana-ticos, percebendo o quanto eles prejudicam o
trabalho. Mas os outros acabam adotando os mesmos comportamentos e vão
envenenando o ambiente.
A
situação piora quando os colegas que trabalham na equipe do engana-tico são
considerados “trouxas”, já que tentam fazer seu melhor pela empresa, ficando
desmoralizados perante a turma do contra. Estes acabam perdendo o respeito
pelas chefias e, possivelmente, sua fé na empresa, porque esta não faz nada
perante essa situação, a qual todos estão enxergando.
A responsabilidade da
empresa em lidar com o engana-tico
Os
colegas do engana-tico dependem de iniciativas da empresa para lidar com o
problema. Eles podem comentar entre si sobre o assunto, afastar-se do
engana-tico, mas não podem fazer muita coisa para lidar com essa pessoa. Eles
apenas percebem como a atitude do engana-tico prejudica o trabalho e eles estão
certos.
Os
colegas pouco podem fazer para que o engana-tico faça a sua parte no trabalho.
Podem estabelecer regras para a equipe, dar feedback, aconselhar e manifestar
sua insatisfação, mas o engana-tico não tem nenhuma obrigação em mudar ou
melhorar sua atitude. O comportamento do engana-tico é em última instância uma
responsabilidade do gestor.
Como abordar um
engana-tico
Se
a empresa entende que há esperança de salvação para um engana-tico, a primeira
coisa a procurar entender o que está errado. Essa análise pode fornecer
indicações sobre o que causa esse tipo de comportamento. A maioria dos
colaboradores começa seu trabalho na empresa de forma mais ou menos
entusiasmada, mas, por um motivo, essa motivação se perde em algum ponto, ou
eles mesmos autossabotam sua motivação. As duas coisas podem acontecer.
Entender o que aconteceu é a chave para a transformação do engana-tico em
alguém produtivo.
É
raro que um colaborador acorde pela manhã e decida ter um dia miserável no
trabalho. É também raro que alguém queira se sentir um fracassado ao final do
expediente. É raro, mas esse tipo de gente existe e o colaborador acredita que
a culpa é da empresa e não dele. Ou o chefe ou o trabalho é o problema.
Após
ter conversado com o colaborador para descobrir a fonte de sua insatisfação e moral
baixo, é possível ajudá-lo a fazer alguma coisa a respeito. Com um engana-tico,
isso é difícil. Primeiro, ele deve reconhecer sua responsabilidade pelas próprias
ações e reações causadas por acontecimentos no ambiente de trabalho que podem
ter ocorrido anos antes.
Nesse
ponto, pode ser que seja difícil para a chefia também. A liderança pode admitir
que os pontos alegados sejam justos. Nesse caso, pedidos de desculpas devem ser
dados, mesmo que o gestor nada tenha a ver com fatos do passado. Pelo menos,
faz sentido perguntar-se quais as condições do ambiente de trabalho causaram
esse tipo de comportamento nas pessoas e como isso pode ser corrigido.
A
liderança pode decidir também que o engana-tico já tenha trazido consigo esses
comportamentos quando foi admitido na empresa. Isso faz com se questione os
processos de seleção utilizados, incapazes de identificar candidatos
potencialmente problemáticos.
Sejam
quais forem as causas das atitudes do engana-tico, este deve conscientizar-se
que as reações às circunstâncias são de sua única responsabilidade. De fato,
nossas atitudes para situações eternamente mutáveis podem ser as únicas coisas
que estejam sob nosso controle na maioria das vezes.
Passos seguintes para
lidar com o engana-tico
Seja
lá o que for que a liderança tenha decido porque um engana-tico é um
engana-tico, as seguintes ações podem ser tentadas:
- Tente
mostrar os ganhos que ele poderá ter se resolver melhorar. Ganhos pessoais e profissionais
são resultados de um bom desempenho e vontade de crescer na empresa.
- Diga
a ele da sua crença de que ele pode melhorar. Às vezes uma palavra de incentivo
de um chefe é a primeira que o engana-tico recebe em muitos anos.
- Oriente
o colaborador em estabelecer algumas metas factíveis de curto prazo. Essas
metas devem ter um prazo definido e definições claras do que é esperado e podem
incluir atitudes e comportamentos. É claro que não é possível que o chefe e o
colaborador compartilhem uma definição clara do que é uma “atitude errada”, mas
é possível estabelecer parâmetros que estabeleçam que determinados
comportamentos são considerados como inadequados pela chefia. Faça o
acompanhamento do progresso dessas metas.
Essas
sugestões podem ajudar a tratar o engana-tico. Mas, se tudo foi tentado e o
colaborador não mudar, a empresa deve ética e legalmente ajudá-lo a encontrar
uma oportunidade em outro lugar.
Para
completar, o engana-tico não corre risco algum de extinção na natureza.
Nem
suas contrapartes nas organizações.
Baseado no artigo How to manage a deadbeat, publicado em http://humanresources.about.com/od/manageperformance/a/dead_beat.htm?nl=1
Nenhum comentário:
Postar um comentário