31 de dezembro de 2014
RH na fita: Mocinho ou Bandido?
Tommaso
Russo
A relação
dos colaboradores em geral com o RH é, na maior parte das vezes, ambígua. Não
há quem não concorde que as pessoas são MUITO importantes para o sucesso da
empresa, que a organização precisa das melhores pessoas possíveis, bem
treinadas e motivadas, com salários alinhados com o mercado, benefícios
valorizados, etc. Desde que as políticas de pessoal não atrapalhem a liberdade
e criatividade dos líderes (!), não burocratizem o dia-a-dia (descrição de
cargo para quê? Eu sei exatamente que tipo de pessoa preciso para preencher
aquela vaga e, afinal, o ocupante vai fazer o que for preciso – o que eu achar
que é preciso...); porque o Diretor precisa aprovar um aumento de quadro? Está
na cara que não atingimos as metas porque temos pouco pessoal...Esse negócio de
feedback é inútil: ou o cara é bom ou é ruim, e fim de papo...
O RH na fita: o bandido
Muita gente enxerga o RH como o ditador e cão de
guarda de regras e leis, burocratas frustrados que servem apenas para
atrapalhar a dinâmica do negócio do qual, aliás, não entendem nada. O melhor é
não envolver o RH nas decisões sobre pessoal, porque senão a empresa não anda.
Infelizmente,
muitos de nós do RH fomos ensinados que abrir exceções para um entre muitos significa
criar desigualdade para todos. Aliás, nos é dito pelos nossos chefes que o
papel de polícia faz parte das nossas descrições de cargo. Muitas vezes, quando
a situação da empresa não é das melhores, somos instruídos pela alta
administração a “segurar” o preenchimento de vagas ou a concessão de aumentos
salariais. Ao mesmo tempo, esses mesmos executivos incentivam as chefias a
“fazer o que for necessário” para melhorar os resultados e irá tomar
providências quanto à “falta de colaboração e a teimosia” do RH (você sabe como
é esse pessoal...).
O que
esses executivos realmente queriam era isentarem-se da responsabilidade de
dizer não, ou fazer o papel de bandido na história. Isso fica para o RH que,
afinal, ganha para isso...
O RH na fita: o mocinho
Mas nem todos os profissionais de RH assumem o papel do
bandido. Pelo contrário, querem ser vistos como gente boa, os mocinhos da
organização.
São pessoas muito simpáticas e priorizam acima de tudo a
felicidade e o bem estar dos colaboradores. Acham que sua responsabilidade principal é circular pela empresa, sorrindo e
cumprimentando as pessoas, criando um ambiente agradável, de paz e harmonia.
Muitos deles optaram pela área de RH porque queriam “trabalhar com gente”.
Com
frequência, esses profissionais veem-se como juízes entre as chefias e seus
subordinados. Com frequência, os problemas são trazidos ao RH pelo subordinado
ou pela chefia, aguardando a sábia mediação do profissional em gente ao invés
de tentarem resolverem suas próprias dificuldades de relacionamento.
Em casos
extremos, o RH comporta-se como advogado dos colaboradores perante a empresa,
acreditando que seu papel é o de super-herói dos fracos e oprimidos.
A sala do
RH é local de frequentes e numerosas peregrinações de colaboradores, ansiosos
em receber sua dose de incentivo ou consolo. O RH leva muito a sério esse
conceito e, sempre que se reúnem com seus pares de outras áreas da empresa, preocupa-se
primeiramente em defender os direitos e bem estar da força de trabalho.
Infelizmente,
esse tipo de RH também não é respeitado pelas chefias e executivos, já que não
se sabe exatamente que lado ocupa nas relações de trabalho. Eles vão procurar
meios de passar por cima do RH em suas decisões relativas às pessoas e o RH
acaba sendo excluído das reuniões e decisões da organização, das quais deveria
participar.
O RH na realidade: fazer o que for
melhor para o negócio
Evidentemente,
a realidade não está na pessoa do bandido e do mocinho da fita. Talvez esteja
na figura do vaqueiro, cuja missão é levar o rebanho em segurança de um lugar a
outro.
Em
primeiro e mais importante lugar, o RH é pago pela empresa, cuja razão de
existir é sobreviver e crescer. Ou seja, o papel de RH, como o de qualquer
outra área da empresa, é fazer aquilo que for melhor para o negócio.
Quando
assuntos como as políticas de pessoal ou o relacionamento entre os empregados e
a empresa, eles examinam os problemas como um problema do negócio, considerando
as melhores ações pela saúde da empresa a longo prazo. Entendem que exceções
sem mérito ou motivo sólido causam descontentamento, mas levam em conta os
aspectos relevantes para o negócio e as circunstâncias atuantes ao invés de
aferrarem-se puramente às regras.
O RH
voltado para o negócio entende claramente que a motivação da força de trabalho
é boa para os resultados, sendo esse um princípio fundamental. Operam segundo a
regra “faça aos outros aquilo que você faria para si mesmo”. Suas preocupações
estão tanto na gestão quanto nos colaboradores em geral.
Mesmo
quando a decisão sobre um assunto não favoreça a pessoa que levantou em
primeiro lugar o problema, o RH deve sentir que uma decisão justa foi tomada.
Essas decisões são devidamente explicadas e justificadas a partir de uma
perspectiva do negócio e não porque “a política exige” ou “isso foi sempre
feito desse jeito por aqui”.
O RH com
foco no negócio sempre participa das decisões críticas relativas às pessoas, já
que seus pares confiam em sua objetividade e isenção, sendo vistos como “primeiramente
focado nos interesses da empresa, depois sendo RH”. Esse é a função esperada do
RH em um ambiente de “Gestão de Capital Humano”, uma evolução da
responsabilidade do RH nas organizações.
Para
aquelas pessoas de RH que ainda encontram-se indecisas sobre qual o papel que
devem assumir nas organizações, uma reflexão através dessa perspectiva é digna
de consideração. Talvez ainda mais importante seja ouvir opiniões objetivas de
outras pessoas na empresa com relação às expectativas de um RH que ajude no
alcance das estratégias do negócio. Afinal, a percepção é a realidade.
Baseado no artigo Is It HR’s Role to Support The Company or
its Employees?, publicado em http://www.tlnt.com/2014/04/24/is-it-hrs-role-to-support-the-company-or-its-employees/
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